domingo, 30 de outubro de 2011

O NEGRO COMEÇA A VIDA ESTUDANTIL PERDENDO -



Na década de 80, OLIVEIRA relata as primeiras intervenções na Educação realizadas pelo Movimento Negro no Brasil, apresenta o sofrimento das crianças negras, ao evidenciar o sentimento de exclusão, peculiar à grande maioria delas. Como demonstra o depoimento de urna criança: "às vezes me sinto uma intrusa com certas reações de amigos e amigas '' (1992: 109).
Como podemos perceber na fala dessa criança a atuação da discriminação racial está presente na educação. Oliveira afirma que a discriminação mais sutil veiculada pelos livros didáticos, pelo currículo e pelos meios de comunicação para a maioria das crianças pesquisadas passa desapercebida, mas isso não implica afirmar que ao longo dos anos, esse tipo de discriminação não venha a causar urna assimilação de estereótipos negativos em relação aos negros, o que ocorre também com a criança branca. Também ficou ressaltado que a forma de o professor caracterizar a criança negra evidência seu despreparo para lidar com situações de discriminação na sala de aula, pois, em muitos momentos, o professor julga a criança negra culpada pela discriminação sofrida. É o que demonstra o depoimento de urna professora:
Além de se sentir rejeitada, a criança negra tem, talvez, por sua própria natureza, lentidão na aprendizagem, lentidão na assimilação do ensino e estes dois fatores contribuam para que ela não consiga acompanhar o seu grupo, desista e saia da escola ou permaneça nela pouco tempo (OLIVEIRA, 1992: 98).
O processo de assimilação, enquanto ajustamento interno de um grupo ante os valores de outro grupo que domina ideologicamente a sociedade (VALENTE, 1994: 85) é um dos fatores predominantes do esvaziamento da identidade étnico-cultural das chamada “minorias”. A escola tem papel fundamental junto a esta política de assimilamento, uma vez que não há espaço para as identidades particulares no seu contexto.
Diante disso o aluno negro é conduzido a negar a identidade de seu povo de origem, em favor da identidade do "outro" - o branco - apresentado como superior. A maioria das situações escolares reforça urna atitude de não aceitação e de distanciamento dos valores das ancestralidades africanas por parte de seus descendentes.  Na década de 80, OLIVEIRA relata as primeiras intervenções na Educação realizadas pelo Movimento Negro no Brasil, apresenta o sofrimento das crianças negras, ao evidenciar o sentimento de exclusão, peculiar à grande maioria delas. Como demonstra o depoimento de urna criança: "às vezes me sinto uma intrusa com certas reações de amigos e amigas '' (1992: 109).
 A criança negra entra na vida escolar perdendo porque a professora não quer tocar a criança negra. A professora não segura a sua mão para ensina-la a motricidade fina, não lhe responde as perguntas, não lhe ensina. Quando não existe uma relação de aféto a criança perde perde a curiosidade e ganha medo. Medo de buscar o professor e não ser acolhido. Essa é a semente para um a construção de um fracasso educacional. Esse sujeito poderá superar tudo isso e seguir em frente, contudo, o mais provável é que abandone a escola.
O tipo de racismo praticado no Brasil tem características peculiares: sutil e velado com fortes mecanismos de exclusão e promoção de inferioridade para os negros. Age "sem demonstrar a sua rigidez, irão aparece à luz, é ambíguo, meloso, perigoso mas altamente eficiente nos seus objetivos" (MOURA, 1994: 160). Ou ainda, como define MUNANGA,“há racismos que foram e são implícitos, não institucionalizados, objeto de segredo e tabu, submetidos ao silêncio, um silêncio criminoso'' ( 1996: 213).
A realidade da qualidade de atenção e educação que a criança negra recebe na escola, é uma das formas institucionalizadas do racismo ela simplesmente não recebe a mesma atenção que as outras crianças. Diversos trabalhos tem demonstrado o quanto se prejudica um ser humano quando este não recebe a atenção adequada durante a infância. E uns outros tantos trabalhos denunciam as práticas criminosas pelas quais crianças negras passam nas escolas diariamente. Começando pela negligencia e desatenção as práticas racistas de professores e alunos. A criança negra não é somente negligenciada ela é rechaçada e mal tratada. A criança negra não recebe abraços, o professor não lhe segura a mão para ensinar-lhe a motricidade fina, não lhe responde as questões em sala de aula, não lhe respeita. Então como pode um aluno desenvolver-se em um sistema que já esta falido e que agride a esta criança.


Angela Wolff


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Debate de Cotas para Negros no programa Canal Livre

              Escolhemos 3 (três) vídeos de distintas opiniões sobre as reservas de vagas nas universidades privadas no Brasil.
               No primeiro vídeo, o Presidente da Educafro, Frei David Santos, apoia a reservas de cotas para a pele negra.


               Já neste, há a opinião do Ministro da Secretaria da Igualdade Racial, Edson Santos, da Procuradora de Justiça /DF, Roberta Fragoso Kaufmann e do Sociólogo, Demétrio Magnoli. 


              Por último, as justificativas da importância das cotas, dita por Frei David Santos. Além disto, Demétrio Magnoli explica a verdadeira história da escravização, e salienta as estatísticas econômicas da população mais pobre financeiramente.  



             Estes debates televisivos são de extrema importância para mostrar os "dois lados da moeda". Muitas vezes nós seres humanos não paramos para pensar na série de preconceitos que infelizmente os negros ainda sofrem. É repugnante pensar que em pleno século XXI, ainda exista pessoas racistas, com pensamentos pequenos, acreditando que são melhores que os outros. Concordo com o pensamento da Procuradora Roberta Fragoso Kaufmann, que as ações afirmativas para negros que não esteja relacionada também à questão econômica, não é a melhor solução, pois só aumentaria ainda mais o preconceito, contrariando a proposta das cotas, que é incluí-los de fato na sociedade. 
             Creio que a melhor maneira de resolver a questão da desigualdade nas universidades, é dando COTAS SOCIAIS para os indivíduos mais desfavorecidos economicamente. Consequentemente diminuiríamos as desigualdades e haveria menos discordâncias sobre estes sistemas, pois muitos indivíduos que são contra as Cotas Raciais, é pelo fato de acreditarem que o negro tem a mesma capacidade de raciocínio que um branco. Porém estes mesmos indivíduos são a favor das Cotas para pessoas de escolas públicas, já que tem a consciência de que estas pessoas foram desfavorecidos na educação, do que um estudante de uma escola privada.

Jéssica Quirino Dias




Crédito à Ângela Wolff Oliveira - também componente do grupo- pelos vídeos a cima, que foram encontrados e selecionados por ela.


domingo, 23 de outubro de 2011

Brasil, um país miscigenado


O Sistema de Cotas tem como objetivo reservar vagas universitárias para grupos específicos do Brasil, tendo como justificativa o fato de que estes certos grupos, em razão de algum processo histórico depreciativo, teriam maior dificuldade para aproveitarem as oportunidades que surgem no mercado de trabalho, bem como seriam vítimas de discriminações nas suas interações com a sociedade. 
Deste que este sistema foi implantado no Brasil, veio surgindo uma guerra de opiniões, tendo duas posições: a de oposição e a de apoio às políticas de cota. A primeira defende o critério do mérito, pois acreditam que quem tem o direito de usufruir as vagas universitárias são os indivíduos que obtiveram as notas superiores comparada com os outros candidatos, independente se o candidato for afro-descendente ou de um estudante oriundo das escolas públicas. Além disto, esta posição crê que as cotas acabam incentivando um “racismo” às avessas, considerando, ainda, as inequívocas dificuldades de definição e aferição dos declarados negros e pardos. Já a segundo oposição defende a necessidade de se resgatar a dívida histórica de exclusão e de preconceitos para com as minorias, principalmente para com os afro-brasileiros, desfazendo-se o mito da democracia racial, e tratando de forma diferenciada, através de políticas, os que se encontram em posições desiguais.
Políticas de Cotas por si, já é um assunto extremamente polêmico, mas esta discussão consegue-se complicar ainda mais por nós vivemos em um país miscigenado. Podemos considerar que o próprio sistema é falho, pois qualquer cidadão brasileiro pode sim declarar-se afro-descendente, afinal, a não ser pelos testes sanguíneos, apenas a própria pessoa pode-se declarar negro, pardo ou branco. Citarei agora um trecho da reportagem escrita por Zakabi & Camargo, sobre o caso dos gêmeos univitelinos, Alex e Alan Teixeira da Cunha, de 18 anos, filhos de pai negro e mãe branca.

“...Eles se inscreveram no sistema de cotas por acreditar que se enquadram nas regras, já que seu pai é negro e a mãe, branca. Seria de esperar que ambos recebessem igual tratamento. Não foi o que aconteceu. Os "juízes da raça" olharam as fotografias e decidiram: Alex é branco e Alan não.
Alan, que quer prestar vestibular para educação física, foi classificado como preto na subcategoria dos pardos e pode se beneficiar do sistema de cotas. Alex, que pretende cursar nutrição, foi recusado. "Não sei como isso é possível, já que eu e meu irmão somos iguais e tiramos a foto no mesmo dia", diz Alex, que recorreu da decisão.”

Este caso é uma prova dos perigos de tentar classificar as pessoas por critério racial. Na minha humilde opinião, as cotas deveriam ser unicamente Sociais, já que não seria colocado um “rótulo” nas pessoas. Infelizmente as maiorias dos brasileiros não compreendem a verdadeira proposta das cotas e muito menos tem conhecimento das estatísticas, que mostram os indivíduos negros como o grupo mais pobre economicamente no Brasil. Portanto, convenhamos que se as cotas fossem destinadas apenas para pessoas da classe baixa, os negros ainda seria os maiores beneficiados, pois continuariam se enquadrando nas cotas. O simples fato de trocar o nome de Cotas Raciais para Cotas Sócias iria haver conseqüentemente uma diminuição da quantidade de negros constrangidos na faculdade pelo fato de terem que escutar picuinhas de colegas preconceituosos dizendo que estão lá apenas por causa das cotas, porém em alguns casos, por exemplo, é o contrário, conquistaram sua vaga com uma colocação superior a dos outros grupos. Às vezes alguma pequena mudança conseguia acabar gerando menos conflitos entre grupos com interesses iguais, mas classes distintas.

                                                                                 Jéssica Quirino Dias



REFERÊNCIAS:



ZAKABI, Rosana & CAMARGO, Leoleli. A decisão da banca da Universidade de Brasília que determina quem tem direito ao privilégio da cota mostra o perigo de classificar as pessoas pela cor da pele – coisa que fizeram os nazistas e o apartheid sul-africano. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/060607/p_082.shtml>. Acesso em: 24 de outubro de 2011.

O que as "Marias" e os "Joãos" pensam sobre as cotas?



 "Para melhor compreendermos as falhas existentes no sistema educacional brasileiro, principalmente com relação ao sistema de cotas, vejamos artigo da Revista Panorama da Justiça: 'Pode-se objetar que o sistema de cotas não é o método mais adequado para corrigir as distorções do ensino superior, as quais devem ser solucionadas através de um investimento efetivo do Estado nos ensino fundamental e médio'. Também é digna de nota a citação de David Araújo e Nunes Junior, lembrada por Pedro Lenza na obra Direito Constitucional Esquematizado: '... O constituinte tratou de proteger certos grupos que, a seu entender, mereciam tratamento diverso. Enfocando-os a partir de uma realidade histórica de marginalização social ou de compensação, buscando concretizar, ao menos em parte, uma igualdade de oportunidades com os demais indivíduos, que não sofreram as mesmas espécies de restrições'." (CAVICHIOLI)


Ao ler essa reportagem, me deparei com o meu próprio pensamento em palavras de outra pessoa. Os “porquês” vieram em minha mente imediatamente. Por que eu pago pelo o que os outros sofreram? Por que eu posso usufruir de um sistema onde não é meu de direito? Porque, vamos combinar, o fato de você receber cotas somente pela cor de sua pele é o maior preconceito que poderia existir. Mas o fato é que essa era uma opinião de uma menina que não tinha tido até então a oportunidade de estudar a psicologia social 2 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Ao conseguir aprofundar meus conhecimentos em aula e com colegas, eu percebi que as cotas possuem uma grande influência na hora de melhorar o ensino para negros e pobres no país, por causa disso e daquilo. Mas quem sabe disso sou eu, Daianny, estudante de psicologia... Uma exceção no país. Mas e as Marias e os Joãos que não possuem a oportunidade de estudar a psicologia social 2, de ter professores e colegas bem informados que conseguem abrir a sua mente e te mostrar o outro lado da história. Pois é, é no João e na Maria que eu penso nesse momento.
Outro dia tive a felicidade de reencontrar uma amiga de muitos anos que não via desde os tempos de escola. Notem que essa menina teve a oportunidade de estudar a vida inteira em escola particular. No decorrer da conversa ela me disse que estava se preparando para o ENEM; e no decorrer da conversa ela me disse: “Sabe Dadá, ano passado eu quase passei na UFRGS, mas eu não consegui porque tinha as cotas”. HUUUUM, como me explicam isso? Todos aqui possuem a ingenuidade de pensar que na hora quando ela pegou a zero hora e viu que seu nome não estava no listão, ela pensou: “Ah eu não passei na UFRGS, mas uma pessoa que foi historicamente massacrada está lá para provar o seu valor”? Sério, alguém realmente pensou nisso?  Essa menina precisa de mais informações? Sim, precisa. Ela e o resto da população brasileira (quase todos na verdade), mas o fato colegas, é que a realidade do nosso país não é de conhecimento, do verdadeiro conhecimento. E isso acaba dificultando a vida dos cotistas dentro da Universidade. Se você me perguntasse há 1 mês atrás se eu era a favor das cotas, esse alguém iria receber um NÃO bem grande na cara. Porém se essa mesma pessoa viesse me perguntar hoje seu eu sou a favor ou contra as cotas, eu iria dizer um “Não sei” bem humilde. Mas essa sou eu, a exceção que falei que sou no começo desse texto. Mas precisamos pensar na Maria, no João, no Pedro que não sabem disso ainda. E até isso mudar caros colegas, devemos repensar em tudo, até no nas cotas.

                                                                         DAIANNY MARTINS



REFERÊNCIA: 

CAVICHIOLI, Mari Roberta. Sistema de cotas nas universidades públicas a luz do princípio constitucional da dignidade da pessoa, 2007. Disponível em: <http://pt.shvoong.com/law-and-politics/constitutional-law/1622308-sistema-cotas-nas-universidades-p%C3%BAblicas/#ixzz1besQKFNb>. Acesso em: 21 de outubro de 2011.