domingo, 23 de outubro de 2011

O que as "Marias" e os "Joãos" pensam sobre as cotas?



 "Para melhor compreendermos as falhas existentes no sistema educacional brasileiro, principalmente com relação ao sistema de cotas, vejamos artigo da Revista Panorama da Justiça: 'Pode-se objetar que o sistema de cotas não é o método mais adequado para corrigir as distorções do ensino superior, as quais devem ser solucionadas através de um investimento efetivo do Estado nos ensino fundamental e médio'. Também é digna de nota a citação de David Araújo e Nunes Junior, lembrada por Pedro Lenza na obra Direito Constitucional Esquematizado: '... O constituinte tratou de proteger certos grupos que, a seu entender, mereciam tratamento diverso. Enfocando-os a partir de uma realidade histórica de marginalização social ou de compensação, buscando concretizar, ao menos em parte, uma igualdade de oportunidades com os demais indivíduos, que não sofreram as mesmas espécies de restrições'." (CAVICHIOLI)


Ao ler essa reportagem, me deparei com o meu próprio pensamento em palavras de outra pessoa. Os “porquês” vieram em minha mente imediatamente. Por que eu pago pelo o que os outros sofreram? Por que eu posso usufruir de um sistema onde não é meu de direito? Porque, vamos combinar, o fato de você receber cotas somente pela cor de sua pele é o maior preconceito que poderia existir. Mas o fato é que essa era uma opinião de uma menina que não tinha tido até então a oportunidade de estudar a psicologia social 2 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Ao conseguir aprofundar meus conhecimentos em aula e com colegas, eu percebi que as cotas possuem uma grande influência na hora de melhorar o ensino para negros e pobres no país, por causa disso e daquilo. Mas quem sabe disso sou eu, Daianny, estudante de psicologia... Uma exceção no país. Mas e as Marias e os Joãos que não possuem a oportunidade de estudar a psicologia social 2, de ter professores e colegas bem informados que conseguem abrir a sua mente e te mostrar o outro lado da história. Pois é, é no João e na Maria que eu penso nesse momento.
Outro dia tive a felicidade de reencontrar uma amiga de muitos anos que não via desde os tempos de escola. Notem que essa menina teve a oportunidade de estudar a vida inteira em escola particular. No decorrer da conversa ela me disse que estava se preparando para o ENEM; e no decorrer da conversa ela me disse: “Sabe Dadá, ano passado eu quase passei na UFRGS, mas eu não consegui porque tinha as cotas”. HUUUUM, como me explicam isso? Todos aqui possuem a ingenuidade de pensar que na hora quando ela pegou a zero hora e viu que seu nome não estava no listão, ela pensou: “Ah eu não passei na UFRGS, mas uma pessoa que foi historicamente massacrada está lá para provar o seu valor”? Sério, alguém realmente pensou nisso?  Essa menina precisa de mais informações? Sim, precisa. Ela e o resto da população brasileira (quase todos na verdade), mas o fato colegas, é que a realidade do nosso país não é de conhecimento, do verdadeiro conhecimento. E isso acaba dificultando a vida dos cotistas dentro da Universidade. Se você me perguntasse há 1 mês atrás se eu era a favor das cotas, esse alguém iria receber um NÃO bem grande na cara. Porém se essa mesma pessoa viesse me perguntar hoje seu eu sou a favor ou contra as cotas, eu iria dizer um “Não sei” bem humilde. Mas essa sou eu, a exceção que falei que sou no começo desse texto. Mas precisamos pensar na Maria, no João, no Pedro que não sabem disso ainda. E até isso mudar caros colegas, devemos repensar em tudo, até no nas cotas.

                                                                         DAIANNY MARTINS



REFERÊNCIA: 

CAVICHIOLI, Mari Roberta. Sistema de cotas nas universidades públicas a luz do princípio constitucional da dignidade da pessoa, 2007. Disponível em: <http://pt.shvoong.com/law-and-politics/constitutional-law/1622308-sistema-cotas-nas-universidades-p%C3%BAblicas/#ixzz1besQKFNb>. Acesso em: 21 de outubro de 2011. 

3 comentários:

  1. Eu também pensava de uma forma parecida: também achava que as cotas eram um forma de preconceito. Óbvio que se tivéssemos um ensino público de qualidade, que suprimisse as diferentes necessidades de quem estuda (brancos, negros, ricos, pobres), levando em conta toda a diferença de longos anos de ensino entre brancos e negros por exemplo, as cotas talvez não fossem necessárias. Hoje vejo o quanto elas são importante para o ingresso de muitas pessoas na universidade.

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  2. O sistema de cotas foi muuuuuuitoooo mal explicado. Não ajudou em nada que representantes do tal "Movimento Negro" (*) se pôs a - literalmente - berrar e ofender toda e qualquer pessoa que expusesse uma visão não concordante, em toda e qualquer seara pública (audiências no Congresso, em reitorias Brasil afora, etc.)

    Ao invés, poderiam ter se detido em dados. Bem melhor, para dissipar medos e mitos, operar com a realidade. Exceto que isso exige certa diligência intelectual, ao passo que levantar sua voz decibéis acima dos que têm ponto de vista oposto exige apenas pulmões e a "força dos números", como se diz (significa: encher uma sala de gente do seu lado e gritar).

    Quem lesse, por exemplo, o Manual de Vestibular da UFRGS (Federal do Rio Grande do Sul) ia descobrir que incompetente não é premiado com "cotazinha". Há que se atingir a nota de corte, que é determinada para a totalidade dos candidatos. Mas enfim, manual, que preguiça...

    No entanto, penso que a melhor solução veio das universidades paulistas (sempre elas as mais inteligentes...). Ao optarem por cotas sociais, atingem a mesma exata e precisa demografia do que as chamadas cotas "raciais", sem cair nessa desgraça de tratar a cor de pele do brasileiro à la estadunidense. Lá, é sabido, o racismo grassou de maneira animalesca, com homens de cor dependurados pelo pescoço de árvores, até a recente década de 60! Que barbaridade!

    Racismo, pra mim, é uma doença mental.

    Abs,

    JP, não o Morgan

    (*) Que um grupo de ativistas contra o racismo se autodesigne como "Moviemento Negro" é algo patético. A designação é alienante e ridícula, que remete à terminologia da antropologia do século 19 - poderiam-se chamar de "Movimento Negroide", seria, do ponto de vista de fonte teórica, igual. Movimento Contra o Racismo é abrangente, plural, e não bebe nas fontes envenenadas de ódio racial para qual remete a designação "Movimento Negro" (se for para designar a comunalidade da "cultura negra" então, lamento, é nova pisada na bola - novo deslize antropológico (pô! os tais intelectuais desses movimentos não leem ?!). Direi mais sobre isso em outro post, talvez...)

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  3. Só para acrescentar e explicar porque acho o tal "Movimento Negro" uma aberação grotesca...Se o "movimento" fosse "Contra o Racismo", seria mais plural, ao invés de alienante (qual o "branquela" que quer se meter numa sala cheio de "nêgo" vestidos com roupas de africanos :-)) Ha ha ha, acho que pintei bem o quanto a coisa é caricatural e pitoresca! :-))

    Ainda, outra coisa que, pra mim, entrega o "Movimento Negro" como algo, no fundo, racista: se o movimento fosse para minorias desfavorecidas, então os chineses e os bolivianos pobres de São Paulo, que migram pra cá com uma mão na frente e outra atrás, seriam agraciados por essa política...

    E, o que é pior, essas verdadeiras "minorias das minorias" são considerados os "escravos modernos", trabalhando completamente à margem de quaisquer proteções trabalhistas. Aliás, se você entende inglês, a rede CNN está passando uma excelente série de reportagem sobre a face moderna da "exploração do homem pelo homem" (essa frase é do Karl Marx? ou de algum francês? Rousseau? agora não lembro). Mas,,,voltando...o nome da série de reportagens da CNN é "Not in Our Name" (Não em Nosso Nome).

    Abraços do
    JP, o que não é Morgan

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