“Eu tinha horror ao dia 13 de maio[2], porque eu sabia que os professores falariam sobre mim. Os professores costumavam dizer: ‘Os negros não são bonitos, mas isto não é o caso da Cármen. A Cármen só tem alguns aspectos das pessoas pretas’. Cármen reflete dizendo que os professores pensavam que eles estavam me dando elogios.” (Cármen, professora negra)
Como podemos perceber na fala dessa criança a atuação da discriminação racial está presente na educação. Oliveira afirma que a discriminação mais sutil veiculada pelos livros didáticos, pelo currículo e pelos meios de comunicação para a maioria das crianças pesquisadas passa desapercebida, mas isso não implica afirmar que ao longo dos anos, esse tipo de discriminação não venha a causar urna assimilação de estereótipos negativos em relação aos negros, o que ocorre também com a criança branca. Também ficou ressaltado que a forma de o professor caracterizar a criança negra evidência seu despreparo para lidar com situações de discriminação na sala de aula, pois, em muitos momentos, o professor julga a criança negra culpada pela discriminação sofrida. É o que demonstra o depoimento de urna professora:
Além de se sentir rejeitada, a criança negra tem, talvez, por sua própria natureza, lentidão na aprendizagem, lentidão na assimilação do ensino e estes dois fatores contribuam para que ela não consiga acompanhar o seu grupo, desista e saia da escola ou permaneça nela pouco tempo (OLIVEIRA, 1992: 98).
A presença de crianças e adolescentes negros é expressiva no cotidiano escolar, porém não é nomeada. Não se fala em comunidade negra, em líderes negros, em personalidades negras, em pessoas negras integrando aquele espaço, mas, fala-se quotidianamente de fora pejorativa: "buraco negro”, "boi da cara preta”, "saci pererê”, "nuvem preta”, "coisa tá preta", "negro escravo”, "preto sujo” e outras. A discriminação racial praticada na sociedade brasileira é silenciosamente tratada (CAVALLEIRO, 1998). Silêncio esse que decorre, em parte, da falta de preparo do professor para lidar com a situação e pelo mito da democracia racial brasileira. No que se refere ao professor não devemos esquecer a sua importância para a formação do pensamento humano, na divulgação e perpetuação de modelos sociais.
Desigualdade racial começa na pré-escola
DA EQUIPE DE TRAINEES
O índice de repetência de crianças negras é maior que das brancas desde a pré-escola, segundo pesquisa realizada pela psicóloga Fúlvia Rosemberg, da Fundação Carlos Chagas.
Baseada na Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a pesquisa mostra que, das crianças de sete anos ou mais que ainda estão na pré-escola, 63,5% são negras -pretas ou pardas-, enquanto 36,5% são brancas.
Baseada na Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a pesquisa mostra que, das crianças de sete anos ou mais que ainda estão na pré-escola, 63,5% são negras -pretas ou pardas-, enquanto 36,5% são brancas.
Segundo a pesquisadora, a retenção de alunos negros também é maior no ensino fundamental.
Entre os alunos que cursam a pré-escola durante a época considerada normal -com até seis anos de idade- 43,1% são negras e 56,3% brancas, situação proporcional à composição racial da população brasileira.
Entre os alunos que cursam a pré-escola durante a época considerada normal -com até seis anos de idade- 43,1% são negras e 56,3% brancas, situação proporcional à composição racial da população brasileira.
A pesquisadora atribui a desigualdade entre raças no desempenho escolar aos fatores socioeconômicos e ao que chama de "pessimismo racial", que significa descrença na possibilidade de sucesso do aluno negro.
Para Rosemberg, uma ideologia racista é transmitida dentro da própria escola. "A criança negra é considerada, de antemão, o candidato mais provável à repetência por todo o aparato educacional -do professor ao diretor e ao secretário de Educação."
Angela Wolff
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