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"Ação afirmativa é uma reação negativa Só racistas consideram a raça" |
Fiz uma pesquisa não científica esses dias, no facebook, colhendo umas opiniões de alguns amigos a respeito das cotas. Uma coisa bem simples, só pra eu ter uma noção do que a “opinião pública” pensava sobre esse assunto, antes de escrever o meu texto. Eis a minha surpresa: ninguém é a favor das cotas! É claro que aquele meu amigo do facebook mais revolucionário e subversivo, pra quem eu não perguntei, TALVEZ tenha a audácia de dizer que é a favor das cotas. Mas no geral assim, ninguém diz. Nem os meus amigos mais “socialistas-paz-e-amor”, dos quais eu tinha esperança que tivessem uma visão diferente. Todos tem um porém, um argumento contra, mesmo quando “aceitam essa forma de inclusão”. Aqui estão algumas das opiniões à minha pergunta, na lata, “o que tu pensa sobre política de cotas?”:
Desirée (Ciências Sociais, UFPR)
assim, se for pra ter cotas e prouni, do jeito que foi feito, eu faria na ed básica.
não pq eu acho que todo mundo tem que passar no vestibular do mesmo jeito nanana. mas pq se tu quer mesmo mudar as coisas, tem que começar lá, que é a época da socialização
da formaçao do ser social, como diz durkheim, hehe
Mayah. (Relações Públicas, UFRGS)
ah cara
nunca soube muito, hein
acho que tinha que começar a inclusão por algum lugar
mas acho que não devia ser de cima pra baixo, sabe
mas já que não fazem direito
acho até aceitável que façam alguma coisa
mesmo que errado
politica do brasileiro
Paulo. (Engenharia Civil, UFRGS)
Eu acho uma palhaçada
hehehe
Diogo. (Ciência da Computação, PUCRS)
tipo "já q n dá pra resolver o problema de educação acessível e de qualidade, então vamos regular a qtde de oportunidades"
Cristiano Lima
mas isso é bom ou ruim?
Diogo.
ruim
podia fazer o troço direito né?
Acho que no fundo eu até não me surpreendi tanto, porque na verdade os princípios de uma ação afirmativa dessas, as idéias e argumentos que embasam a adoção desse sistema são muito pouco conhecidos. Os argumentos contra, de outro modo, pipocam com uma facilidade tremenda. A questão da educação básica – que é onde deveriam ser focados os esforços públicos –, da miscigenação brasileira, a idéia de que a entrada de negros por meio das cotas estimularia preconceitos (imagem acima), além da fantasia de que o ingresso destes degradaria a qualidade do ensino superior.
O professor Kabengele Munanga, da USP, já tratou de cada uma dessas questões, e foi pelas idéias dele que me senti seguro e consegui formar concretamente minha opinião favorável às cotas. Quanto à imagem ali de cima, por exemplo, que remete a noção de que as cotas gerariam um preconceito para com os cotistas e estimularia o racismo, eu acho simplesmente patético começar uma discussão por aí. Definitivamente, não é pela possibilidade de alguns mal intencionados se utilizarem da situação para proclamarem seu racismo que as cotas não deveriam ser adotadas. Fora isso, Munanga bem lembra do racismo velado praticado no Brasil, com muitas pessoas se declarando não-racistas, mas flagrantes manifestações em atitudes, pensamentos ou frases soltas. O mito da democracia racial, inclusive, é uma tecla muito batida pelo professor, que lembra que muitos dos posicionamentos contrários à política de cotas se defendem com a negação da existência do racismo no Brasil – uma bela hipocrisia, convenhamos.
Outro ponto interessante é o tom de novidade (agora não mais tanto) que adquiriu a política de cotas por aqui, como se essa idéia já não tivesse sido aplicada – com sucesso – em tantos outros lugares. A (infeliz) frase da minha amiga Mayah, dizendo que se trata de “política de brasileiro”, resume bem isso. No entanto, essa política já foi adotada por países como Estados Unidos, Canadá, Índia e Austrália. No caso dos EUA, por exemplo, a partir da luta pelos direitos civis dos negros na década de 60, a implementação de políticas de cotas levou o país a ter um crescimento significativo na classe média afro-americana. Acarretou também num aumento no número de estudantes, intelectuais, advogados e professores negros nas universidades, bem como de médicos em grandes hospitais e profissionais em todos os setores da sociedade americana. A experiência se provou acertada.

Enfim, esses são só alguns dos pontos de debate sobre a política de cotas. O fato é que, do total de universitários brasileiros, aproximadamente 97% são brancos, enquanto 2% são negros. E em se tratando de Brasil, esses números escancaram que alguma coisa está muito errada. Por sorte as cotas estão aí, já adotadas por diversas universidades, como a própria UFRGS. Mas ainda assim, por incrível que pareça, em minha volta todo mundo é contra as cotas.
Cristiano Lima
eu nao sei.. acho que é uma coisa muito mais complexa do que os argumentos militantes. afinal, todo militante tende a resumir uma realidade social a favor da sua causa. eles nao mentem, mas tambem nao dao conta da complexidade social que envolve a discussão. tanto pros militantes a favor quanto os contra. acho que no fundo eu sou contra. mas nao pq eu nao acho que tenha que ter uma política de equalizaçao econômica, mas pq eu acho que todo o sistema educacional é falacioso na medida em que mantém uma estrutura que favorece muito aquelas pessoas que tem um capital cultural mais próximo do que é transmitido em todas as etapas da educaçao. bem na linha do bourdieu, sobre reproduçao social. pq toda a linguagem, toda a postura, todo o comportamento, os conteudos, tudo é baseado num comportamento de uma classe social especifica, e quem vem de outras classes (eu nao gosto muito da ideia de classe social) mas enfim, quem tem um capital cultural diferente, tem outras referencias familiares, precisa fazer constantemente uma tradução, o que dificulta e atrasa o seu desempenho com relaçao aos outros que "ja sabem falar aquela língua". desse modo, reservar umas vagas na universidade pra quem é preto ou pobre ou índio não adianta bosta nenhuma
ResponderExcluirAcho uma forma de mascarar um problema mais grave e profundo, que foi a destruição do ensino básico, feita propositalmente durante a ditadura militar. Se a base é uma merda, não tem o que fazer. E isso é o grande problema.
ResponderExcluirMas, como medida emergencial sou favorável. Até pq a maioria dos estudantes que entram pelo sistema de cotas acaba se saindo bem durante a faculdade. Os cursos não tem um prejuízo de perder qualidade ou coisa parecida.
Não deveria ser uma medida para sempre, o coerente seria ir melhorando o ensino médio e fundamental da rede publica e, com o tempo, retirando as cotas...
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