segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Fraudes, exceções e o bom senso

Minha colega Jéssica fez um post falando do caso dos gêmeos da UnB, em que um foi admitido pelas cotas e outro não. É de fato um caso curioso que a Veja soube se aproveitar bem. Nessa hora entram em pauta as questões da grande miscigenação no Brasil (verdadeira), das dificuldades de se classificar negros, brancos e pardos, e das temerárias composições dos ditos “tribunais raciais”. Pois as comissões de controle existem justamente para coibir fraudes, como aquela representada na charge publicada pela colega Raquel, onde um branco tenta se passar por negro pra conseguir entrar na Federal. No caso dos gêmeos da UnB, todavia, o que se viu foi um erro humano. Uma exceção, um caso raro, mas que é possível acontecer. E os erros humanos, quando detectados, devem ser corrigidos pelos próprios humanos, como acabou ocorrendo no fatídico caso da UnB. É importante lembrarmos que nenhuma seleção está alheia a possíveis deslizes, mas qualquer injustiça deverá ser apurada e julgada pelas pessoas competentes.
É interessante também como nós tratamos esses casos de tentativas de fraudes como algo banal. Se é tão difícil entrar na UFRGS e existem cotas, por que eu não posso tentar? Afinal, todo brasileiro é um pouco afrodescendente... Pra esse assunto, a contribuição do Munanga é muito válida: “Quando essas pessoas fenotipicamente brancas e geneticamente mestiças se consideram ou são consideradas brancas no decorrer de suas vidas e assumem, repentinamente, a identidade afrodescendente para se beneficiar da política das cotas raciais, as suspeitas de fraude podem surgir. [...] Se não houver essa vigilância mínima, seria melhor não implementar a política de cotas raciais”.
Mas existe a possibilidade ainda de um outro tipo de falcatrua, aquela que fomenta as idéias de que as cotas não deveriam ser raciais, e sim sociais (apenas para oriundos de escola pública/pobres, ignorando-se a raça). Pois o casseta Hélio de la Peña, no vídeo abaixo, coloca a sua posição contrária a política de cotas e despeja um argumento de gosto um tanto duvidoso, mas muito comum de se ouvir (no final do vídeo, o último argumento).


Bem, ele é negro, sem dúvida, e seu filho também. Porém, como humorista global famoso e bem endinheirado, tem plenas condições de financiar uma educação de qualidade para seu filho – o que sem dúvida é uma exceção. Mas vejam só, como negro, o filho dele tem o direito de pleitear uma vaga nas tais de cotas raciais, mesmo tendo sido beneficiado com excelentes oportunidades de ensino. Que injustiça, não? Ora, mas se existem negros que não precisam destas vagas, pois estudaram em colégio particular ou por qualquer outro motivo, e sentem-se capacitados para concorrer com os demais, eles não deveriam ir atrás dessas vagas. O que se espera, afinal, não é nada mais do que o bom senso.

Cristiano Lima

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